9 anos da tragédia

VÍDEO: centro de atendimentos do Husm virou referência na reabilitação de queimados

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Foto: Marcelo Oliveira (Diário)
Raquel Audrei Dias Padilha foi uma das pacientes atendidas no Ciava pela coordenadora e fisioterapeuta Anna Ourique

A tragédia da boate Kiss, há 9 anos, forçou Santa Maria a se mobilizar de forma ágil já nos primeiros momentos após o incêndio. Identificação de centenas de corpos, velório coletivo, apoio a famílias e atendimento médico a 636 feridos. Foi a partir da necessidade de uma assistência hospitalar especializada aos sobreviventes que surgiu o Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (Ciava), do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). O ambulatório foi criado em 22 de fevereiro de 2013, menos de um mês após a tragédia, e o hospital até já "exportou" o modelo de reabilitação para a Europa. 


Os sobreviventes da Kiss eram pessoas com queimaduras de segundo e terceiro graus e que tinham sequelas por conta disso. Também havia quem tivesse complicações cardiorrespiratórias devido à inalação da fumaça tóxica. O Ciava chegou a fazer 7,5 mil atendimento no primeiro ano. De 2013 a 2018, foram 18.860 consultas com profissionais de diferentes áreas: de psicologia a cirurgia plástica e, principalmente, fisioterapia - área que permitiu às vítimas a retomada completa de movimentos.

- Nós não tínhamos esses conhecimentos de como tratar os pacientes. Com a Kiss, fomos buscar informações e nos especializamos em queimaduras. A demanda era baixa, um ou dois queimados por semana, geralmente casos leves. Com o incêndio na boate, passamos a ter 32 queimados para tratar aqui no Husm, de uma hora para outra. Por isso a criação do centro integrado - explica a fisioterapeuta Anna Ourique, coordenadora do Ciava. 

Live vai relembrar os 9 anos da tragédia da boate Kiss nesta quinta-feira

Os protocolos adotados e agilidade com que o Ciava entrou em ação chamaram a atenção no país e até na Europa. O serviço foi requisitado pela Associação Portuguesa dos Fisioterapeutas, que replicou os protocolos no atendimento às vítimas do incêndio florestal que deixou 64 pessoas mortas e mais de 100 feridos em Lisboa, em 2017. Os portugueses solicitaram um detalhamento para saber como os profissionais procederam durante o incêndio da Kiss.

Também em 2017, profissionais do Ciava foram para Janaúba, Minais Gerais, auxiliar no atendimento de sobreviventes de um massacre em uma creche que deixou 14 mortos.

- Eu fui para Janaúba junto de uma equipe aqui do Ciava. Auxiliamos tanto para formação do centro que foi criado lá quanto no tratamento dos pacientes em si. Até hoje, somos chamados para palestras em vários Estados - revela Anna Ourique. 

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Foto: Marcelo Oliveira (Diário)

ÚLTIMA ALTA OCORREU EM 2018

A funcionária pública federal Raquel Audrei Dias Padilha, 45 anos, é uma das mais de 600 sobreviventes da Kiss. No momento do incêndio, desmaiou dentro da boate e até hoje não sabe como saiu. Teve 20% do corpo queimado, ficou 12 dias em coma no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, e mais 12 dias em uma UTI. Depois, teve alta e encontrou apoio para reabilitação no Ciava. 

- O pessoal me tratava com muita paciência e atenção. Eu ficava com medo de me mexer na fisioterapia por causa das queimaduras. Eu não conseguia pentear o cabelo, por exemplo, porque a minha queimadura foi nas costas. Mas tive uma recuperação plena - relata. 

Raquel ainda carrega nas costas as marcas da tragédia, local em que precisou fazer um enxerto de pele. Mas as cicatrizes hoje já são pouco visíveis, graças ao trabalho da equipe especializada. Ela ficou 5 anos recebendo acompanhamento e foi a última paciente a ter alta no Ciava em 2018.

- Hoje eu só tenho muita tosse, principalmente quando tem mudanças de temperatura, porque tenho resquícios de sujeira no pulmão. Na época, me falaram que tive cerca de 80% do pulmão comprometido. Ainda faço acompanhamento psicológico e no pneumo - conta. 

CENTRO SEGUE EM FUNCIONAMENTO

Os atendimentos reduziram, todos os sobreviventes da Kiss que passaram por lá já deram alta, mas o Ciava segue na ativa. Como os hospitais referência para casos graves de queimadura ficam em Porto Alegre e as vagas pelo SUS são poucas, o Husm acaba recebendo a demanda da região nestes atendimentos, devido à experiência adquirida.

Conforme a coordenadora do Ciava, acidentes domésticos que resultam em queimaduras são os principais casos atendidos atualmente:

- Muitas crianças chegam até nós com queimaduras que aconteceram em casa, com água quente, fogão... Também recebemos vítimas de descargas elétricas. 

O CIAVA

  • O que é - centro especializado no atendimento e reabilitação de vítimas de queimaduras 
  • Atendimentos - serviço social, pneumologia, clínica geral, educação física, fisioterapia, enfermagem, fonoaudiologia, otorrino, cirurgia plástica, psiquiatria, psicologia
  • Criação - 21 de fevereiro de 2013

DADOS 6 PRIMEIROS ANOS CIAVA

  • 2013 - 7.503 atendimentos
  • 2014 - 3.695 atendimentos
  • 2015 - 3.411 atendimentos
  • 2016 - 1.290 atendimentos
  • 2017 - 1.333 atendimentos
  • 2018 - 1.628 atendimentos
  • TOTAL - 18.860 atendimentos

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